Você, ja foi vitíma de bullying?

Estudos iniciais sobre BULLYING

  • Um breve histórico

    Entende-se por BULLYING todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executado dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.

    Diversos pesquisadores em todo o mundo têm direcionado seus estudos para esse fenômeno que toma aspectos preocupantes, tanto pelo seu crescimento, quanto por atingir faixas etárias, cada vez mais baixas, relativas aos primeiros anos de escolaridade. Dados recentes apontam no sentido da sua disseminação por todas as classes sociais e uma tendência para um aumento rápido desse comportamento com o avanço da idade, da infância à adolescência.

    No estudo realizado pela ABRAPIA, 40,5% dos 5785 alunos de 5a a 8a séries participantes admitiram estar diretamente envolvidos em atos agressivos na escola.

    Durante a década de 90, ocorreu na Europa, um número considerável de pesquisas e campanhas que conseguiram reduzir a incidência de comportamentos agressivos nas escolas.

    Tudo teve início com os trabalhos do Professor Dan Olweus, na Universidade de Bergen – Noruega (1978 a 1993) e com a Campanha Nacional Anti-BULLYING nas escolas norueguesas (1993). No início dos anos 70, Dan Olweus iniciava investigações na escola sobre o problema dos agressores e suas vítimas, embora não se verificasse um interesse das instituições sobre o assunto. Já na década de 80, três rapazes entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio. Estes incidentes pareciam ter sido provocados por situações graves de BULLYING, despertando, então, a atenção das instituições de ensino para o problema.
Olweus pesquisou inicialmente cerca de 84.000 estudantes, 300 a 400 professores e 1.000 pais entre os vários períodos de ensino. Um fator fundamental para a pesquisa sobre a prevenção do BULLYING foi avaliar a sua natureza e ocorrência. Como os estudos de observação direta ou indireta são demorados, o procedimento adotado foi o uso de questionários, o que serviu para fazer a verificação das características e extensão do BULLYING, bem como avaliar o impacto das intervenções que já vinham sendo adotadas.

Nos estudos noruegueses utilizou-se um questionário proposto por Olweus, consistindo de um total de 25 questões com respostas de múltipla escolha, onde se verificava a freqüência, tipos de agressões, locais de maior risco, tipos de agressores e percepções individuais quanto ao número de agressores (Olweus, 1993a). Este instrumento destinava-se a apurar as situações de vitimização/agressão segundo o ponto de vista da própria criança. Ele foi adaptado e utilizado em diversos estudos, em vários países, inclusive no Brasil, pela ABRAPIA, possibilitando assim, o estabelecimento de comparações inter-culturais.

Os primeiros resultados sobre o diagnóstico do BULLYING foram informados por Olweus (1989) e por Roland (1989), e por eles se verificou que 1 em cada 7 estudantes estava envolvido em caso de BULLYING. Em 1993, Olweus publicou o livro “BULLYING at School” apresentando e discutindo o problema, os resultados de seu estudo, projetos de intervenção e uma relação de sinais ou sintomas que poderiam ajudar a identificar possíveis agressores e vítimas. Essa obra deu origem a uma Campanha Nacional, com o apoio do Governo Norueguês, que reduziu em cerca de 50% os casos de BULLYING nas escolas. Sua repercussão em outros países, como o Reino Unido, Canadá e Portugal, incentivou essas nações a desenvolverem suas próprias ações.

O programa de intervenção proposto por Olweus tinha como características principais desenvolver regras claras contra o BULLYING nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte de professores e pais, aumentar a conscientização do problema, avançando no sentido de eliminar alguns mitos sobre o BULLYING, e prover apoio e proteção para as vítimas. Com o sucesso da Campanha Nacional Anti-Bullying realizada na Noruega, diversas campanhas e estudos seguiram o mesmo caminho, dos quais podemos destacar o The DES Shefield Bullying Project–UK, a Campanha Anti-Bullying nas Escolas Portuguesas e o Programa de Educação para a Tolerância e Prevenção da Violência na Espanha, entre outros.

  • Programas propostos

    Atualmente, diversas pesquisas e programas de intervenção anti-bullying vêm se desenvolvendo na Europa e na América do Norte. Recentemente um projeto internacional europeu, intitulado “Training and Mobility of Research (TMR) Network Project : Nature and Prevention of Bullying”, mantido pela Comissão Européia, teve a sua conclusão em 2001. Este projeto, que englobava Campanhas do Reino Unido, Portugal, Itália, Alemanha, Grécia e Espanha, teve os seguintes objetivos:

    § diagnosticar as causas e naturezas do BULLYING e da exclusão social nas escolas;
    § verificar as causas desses problemas em diferentes sociedades e culturas;
    § verificar as conseqüências em longo prazo, até a vida adulta;
    § avaliar os programas de intervenção prósperos;
    § identificar modos de prevenção desses problemas, por meio da integração de diferentes metodologias de estudo.


    Alguns aspectos observados nestes Programas foram:

    a) A maior parte dos alunos entrevistados diz nunca ter sofrido situações de BULLYING na escola;
    b) A maioria dos agressores encontra-se na própria sala das vítimas, principalmente nas séries iniciais;
    c) Os meninos tendem a ser agredidos principalmente por meninos, enquanto que as meninas por ambos os sexos. Os meninos também admitem agredir mais do que as meninas;
    d) As agressões ocorrem principalmente durante os recreios e na sala de aula;
    e) A metade dos alunos entrevistados espera que o professor intervenha nas situações de agressão na sala de aula.
    f) Entre os alunos que se dizem agredidos, 50% admitem que não informam o ocorrido nem aos professores e nem a seus responsáveis.

    Diversas discussões com os representantes das escolas participantes no programa foram desenvolvidas para obtenção de alguns princípios básicos na política de intervenção. Dentre as ações implementadas deve ser destacado o envolvimento de professores, pais, autoridades educacionais e alunos, buscando definir com clareza o fenômeno do BULLYING, e estabelecer as diretrizes necessárias para o desenvolvimento de estratégias que possam ser executadas por todos.

    O objetivo principal era o de sensibilizar toda a comunidade escolar para apoiar os alunos alvos de BULLYING, fazendo com que se sentissem seguros para falar sobre a violência que vinham sofrendo.

    O Programa entendia as escolas como sistemas dinâmicos e complexos e que não poderiam ser tratadas de maneira uniforme, pois a realidade de cada uma delas é baseada nas experiências de seus alunos, de seus professores e da comunidade. Conseqüentemente, as estratégias e ações aplicadas deveriam ser definidas individualmente.

    Estabeleceu-se que, em cada unidade de ensino, seria criado um Conselho, formado por representantes da comunidade escolar, capaz de definir e priorizar as ações, de acordo com os contextos sociais e políticos locais, buscando-se, assim, as soluções mais factíveis para a resolução dos problemas relacionados ao BULLYING.

    Dois aspectos de grande relevância, identificados em todos esses Programas, mereceram destaque: o número expressivo de crianças envolvidas em práticas agressivas, seja como alvos, autores ou testemunhas, e a constatação de que o número de alvos é sempre superior ao número de autores.

    A partir desses trabalhos, vários estudos foram realizados com a finalidade de verificar o fenômeno sob diversos aspectos. Hoje é reconhecido que o BULLYING, como fenômeno social, pode surgir em diversos contextos, como parte de problemas de relações pessoais entre adultos, jovens e crianças em diferentes locais, como: trabalho (workplace BULLYING), prisões, asilos de idosos, ambiente familiar, clubes e playgrounds, entre outros.

    No Brasil, como reflexo dos trabalhos europeus, encontramos alguns estudos sobre BULLYING no ambiente escolar, realizadas recentemente:

    a) O trabalho realizado pela Prof.ª Marta Canfield e colaboradores (1997), em que as autoras procuraram observar os comportamentos agressivos apresentados pelas crianças em quatro escolas de ensino público em Santa Maria (RS), usando uma forma adaptada pela própria equipe do questionário de Dan Olweus (1989);
    b) As pesquisas realizadas pelos Profs. Israel Figueira e Carlos Neto, em 2000/2001, para diagnosticar o BULLYING em duas Escolas Municipais do Rio de Janeiro, usando uma forma adaptada do modelo de questionário do TMR;
    c) As pesquisas realizadas pela Profa. Cleodelice Aparecida Zonato Fante, em 2002, em escolas municipais do interior paulista, visando ao combate e à redução de comportamentos agressivos.

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